Agro é atraso

Quando concorreu à presidência Dilma falava o tempo todo de Economia de Baixo Carbono sem explicar direito o que é isto. Basicamente é uma economia baseada no conhecimento, em que a maior parte do valor não vem do processo de fazer mercadorias, mas de pensá-las. A economia do conhecimento se concentra em coisas como projetos, design, programas de computador, sites, músicas, séries, filmes, etc.

Mas desde que o barão de Mauá fez as primeiras tentativas de industrialização no Brasil, a elite nacional sempre rejeitou mudanças desse tipo. O Brasil teria uma vocação agrária inegável, e precisaria seguir essa vocação, porque é isso que a elite nacional faz, e esta elite não poderia nunca estar errada.

Claro que quem defende esse discurso não faz só para estar certo, mas porque essa minoria dos grandes latifundiários recebe benefícios do estado, como o Plano Safra, com juros subsidiados com os impostos de todos, porque o país precisa investir em sua vocação.  Para a maior parte da população uma economia agrária não é um bom negócio, porque significa baixos salários, baixa qualidade de vida e manutenção da desigualdade social.

As comoddities que o agronegócio produz são feitas para serem exportados em grande quantidade a preços baixos. Por isso seus produtores querem o dólar o mais alto possível, uma vez que muitos de seus custos são em reais, e querem o trabalho o mais barato possível, para que seus lucros sejam maiores. Mas para a maioria das pessoas do país, avanço seria uma economia de baixo carbono, com empregos de alta qualidade, que compete no mercado internacional.

Acontece que o tamanho e poder do agronegócio faz com que o país não possa realizar esse salto, porque os recursos para isto são monopolizados para financiar o modelo agrário exportador e porque as medidas necessárias para alcançar uma economia do conhecimento são medidas que vão prejudicar o agronegócio.

A burguesia nacional vive bem e mantém seus privilégios em seu nicho de mercado, fornecendo produtos primários ou no máximo semimanufaturados, e depende de que o país como um todo acredite que esta dinâmica faz bem ao país. Não é a toa que a bancada ruralista votou em peso pelo golpe.

Mas precisamos derrubar essa narrativa, porque um país não consegue se desenvolver com produtos primários como minério, soja e carne. Nenhum país desenvolvido, em que as pessoas vivam bem, produzi principalmente commodities.

Para que o Brasil se torne um lugar onde a maior parte das pessoas tem uma vida digna é preciso que a economia seja várias vezes maior do que hoje. Nosso PIB por pessoa é virtualmente a metade das mais pobres nações europeias,, quase um quarto do dos Estados Unidos e dobrar nosso PIB por pessoa com agronegócio é algo que simplesmente não vai acontecer.

O modo como o agronegócio dirige a política e a economia do Brasil tem sido nossa maldição-atraso desde o império. Seus representantes políticos, hoje a bancada ruralista, antes a UDR e os coronéis, sempre foram contra todas as tentativas de modernização do país, apoiando, sem pudor, os golpes em nossa história.

Agro é atraso.

Deixe uma resposta