Existe uma rusga perigosa entre a “velha esquerda” e seus temas econômicos e a “nova esquerda” e seus temas identitários. Manuela faz das duas tese e antítese de sua síntese genial.
Recentemente temos visto dentro dos movimentos de esquerda um conflito subterrâneo em torno das questões identitárias. Para entender este conflito precisamos visitar pelo menos três de seus aspectos, a questão geracional, a origem do debate identitário e a necessidade de autocrítica das esquerdas.
Rapidamente.
Os debates identitários contemporâneos chegaram ao Brasil principalmente a partir da influência de ativistas dos Estados Unidos, grande parte deles liberais. Os EUA são um país que não possui uma esquerda propriamente dita, por inúmeros motivos, e portanto estes movimentos tem um diálogo pequeno com as esquerdas tradicionais, ligadas ao socialismo e anarquismo que compunham a maioria dos militantes de esquerda do Brasil. Esta diferença criou um problema geracional dentro do movimento, em que os ativistas tradicionais muitas vezes não compreendiam totalmente as pautas e propostas da nova geração e vice versa. Essa falta de entendimento dificultou o processo das esquerdas tradicionais assimilarem estas novas pautas e fazerem suas necessárias autocríticas. Todos nós, nascidos e criados imersos em preconceitos, regimes históricos como a União Soviética e Cuba, precisam realizar sua autocrítica e reconhecer as opressões e discriminações que sobrevivem em nossas estruturas e trabalhar para mudar.
É preciso muita humildade para lidar com as críticas das novas gerações, reconhecer suas demandas como justas, e como nãos somos todos perfeitos, nem sempre conseguimos ter essa humildade. É preciso muita sagacidade para traduzir conceitos de uma realidade tão distante da nossa como os EUA para a nossa, e não somos todos tão sagazes. Por isso, os pensamentos dialogaram menos do que precisavam, se construíram tese e antítese e cada grupo começou a interpretar as demandas e críticas do outro como ataques.
Por isto, a candidatura de Manuela d’Ávila à presidência da república é tão revolucionária. Porque ela consegue elaborar na sua prática política essa tese e antítese e construir uma síntese destas duas gerações. Sua proposta revolucionária é: a luta contra todas as discriminações é o motor do desenvolvimento econômico e social.
Em vez de pensar as pautas “pós modernas” em um capítulo a parte de um projeto de Brasil, de pensar a militância contra a desigualdade social em um campo e o contra as discriminações em outro, ela consegue unir ambos na proposta que é o processo de inclusão das pessoas discriminadas que permitirá o crescimento com distribuição de renda.
Essa síntese tem como alicerce central a visão que o crescimento da economia brasileira vai ocorrer a partir da melhoria de vida dos brasileiros. Do acesso à educação, ao trabalho qualificado, à saúde pública. Mas que isto não vai acontecer enquanto houver um genocídio da juventude negra, enquanto os serviços domésticos e familiares forem um fardo que afasta as mulheres da educação e do trabalho, enquanto a discriminação contra minorias, várias, sufocar talentos que fariam do Brasil um lugar melhor. Suas propostas compreendem que a luta pela vida melhor, digna de todos os brasileiros necessariamente passa por debatermos as questões da mulher, as LGBT+, as raciais, as da diversidade religiosa, porque políticas específicas para atender estas minorias são uma parte integrante e essencial de uma proposta de crescimento com distribuição de renda, não um anexo a um projeto político/econômico.
Exemplos que ela não cansa de dar falam do número imenso de mulheres que não ingressam nas ciências exatas e na impossibilidade de mulheres trabalharem nos três primeiros anos de maternidade. Estes problemas travam o desenvolvimento do país de modo real e realimentam o ciclo de produção da desigualdade social. Os enfrentar não é uma pauta apenas identitária.
Por isto, todos precisamos ouvir mais Manuela. Porque esta inovação precisa se tornar uma nova norma dentro das nossas estruturas, uma nova plataforma. porque é capaz de construir uma nova unidade.
Como exemplo, a playlist de propostas apresentadas até agora. o 12º vídeo é especialmente significativo.