A conspiração do silêncio

No debate eleitoral da Band houve um pico de pesquisa por Guilherme Boulos, e a interpretação mais óbvia é que isso ocorreu porque grande parte do Brasil não o conhecia, e foi conferir quem ele é. Apesar de sua candidatura estar na rua há meses, de ter dado entrevistas como a do Roda Viva, de ter sido colunista por mais de dois anos na Folha de São Paulo, ele continuava um grande desconhecido. O movimento que ele dirige, o MTST é infinitamente mais desconhecido e incompreendido que o MBL, apesar do MTST ser o maior movimento social urbano do país.

gráfico do interesse por Guilherme Boulos no Google Trands, de 1º de Março a 10 de agosto, mostrando um aumento abrupto de pelo menos 10x na data do debate.
Gráfico do Google Trands para Guilherme Boulos.
Gráfico do Google Trends comparando interesse entre MBL e MTST de agosto de 2017 a agosto de 2018. O MBL tem, consistentemente pelo menos cinco vezes mais buscas, com vários picos em que atinge pelo menos 15 vezes.
Gráfico do Google trends para MBL e MTST.

Marielle Franco era uma ilustre desconhecida até seu brutal assassinato, conquistas como o aumento do IDEB no Ceará, o programa Escola Digna no Maranhão são desconhecidas da maioria das pessoas. Em um trecho do Anticast, Lula conta que enquanto era antipolítica, era uma figura que aparecia nos jornais sempre, mas quando entendeu a importância da política e começou essa militância começou a ser boicotado. Podemos fazer uma longa lista de casos, que vão todos nos indicar uma dificuldade muito grande de pessoas, movimentos e conquistas de esquerda de se tornarem conhecidas.

Debatemos a cada eleição a escassez de lideranças no campo de esquerda que sejam eleitoralmente viáveis, mas não debatemos o pacto de silêncio que existe na imprensa para esconder as lideranças que existem.

A imprensa, sempre que possível, silencia, apaga, ignora as lideranças que podem ameaçar o sistema, e por isso precisamos fazer o movimento contrário: divulgar essas pessoas. A imprensa alternativa tem falhado em gerar visibilidade para lideranças de esquerda porque se concentra em comentar o que a grande mídia diz, mas sem levantar novas pautas. Mas o problema não é só o viés, mas a escolha do conteúdo.

Essa escolha faz com que a cada eleição a gente já comece em desvantagem, porque nossos candidatos são os desconhecidos, os que não aparecem nos jornais, os que temos que explicar quem são. Enquanto os outros, com acesso às manchetes, já fazem parte do imaginário popular.

Enquanto não começarmos a divulgar nossas lideranças no dia a dia, na imprensa alternativa, nas redes sociais, não vamos conseguir romper esse pacto de silêncio da imprensa corporativa.

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